MEIO AMBIENTE

Publicado em 24 de Agosto de 2017 13:11

Cientistas querem usar teia de aranha para reconstruir coração

Publicado por Thaís Albuquerque Expirado
Cientistas querem usar teia de aranha para reconstruir coração

Pesquisadores alemães estudam usar seda produzida por aracnídeos, elástica e resistente, para produzir tecido cardíaco. Material também poderia ser usado como revestimento para implantes mamários e até mesmo em sapatos.


Quem sofre de insuficiência cardíaca poderá, no futuro, contar com ajuda vinda de um material inesperado. E pegajoso. Cientistas alemães afirmam que pode ser possível reconstruir o tecido do coração a partir da seda de aranha, material elástico e extremamente resistente.
No momento, não existe uma terapia para reverter o dano às células cardíacas provocado por um infarto. Na busca por uma solução, o professor Felix Engel, da Universidade de Erlangen, demonstrou que a seda de aranhas-tecedeiras é particularmente adequada como material base para produzir o tecido cardíaco. Porém, ainda havia um obstáculo: não era possível produzir em laboratório a proteína que dá à seda sua estrutura e resistência, a fibroína, em quantidade e qualidade suficiente.
A ajuda veio de pesquisadores da Universidade de Bayreuth: "Conseguimos produzir uma proteína de seda recombinada da aranha de jardim em maiores quantidades e com a mesma alta qualidade", disse o professor Dr. Thomas Scheibel, titular da cadeira de Biomateriais da Universidade de Bayreuth.
Assim, a seda pode ser confeccionada em laboratório, fora do corpo das aranhas. As equipes também pesquisaram em conjunto como a proteína construída em laboratório interage com células do coração. A descoberta foi publicada na revista científica Advanced Functional Materials.
A seda de aranha é mais resistente que o nylon, que as fibras sintéticas Kevlar e que todos os outros materiais fibrosos sintéticos. Por isso, ela é um excelente material para confeccionar as chamadas biotintas, com as quais estruturas semelhantes a tecidos podem ser produzidas por impressoras 3D. O trabalho dos pesquisadores e a possibilidade de imprimir as proteínas de seda artificiais nas impressoras 3D são os primeiros passos para produzir tecido cardíaco funcional no futuro.
Reciclável e biodegradável
Scheibel fundou com dois colegas a start-up AMSilk em 2008, que produz biopolímeros de seda de alta qualidade para uso em produtos têxteis, dispositivos médicos e cosméticos. A diferença em relação a outros polímeros sintéticos é que o produzido a partir da seda é totalmente reciclável.

Os pesquisadores de Bayreuth também demonstraram como usar a proteína para revestir implantes mamários, já que a seda é estéril, dificultando a disseminação de bactérias e fungos, e sua proteína é melhor aceita pelo corpo humano do que o silicone. O método funcionou em experimentos com animais, e testes com humanos serão realizados em breve.
"Estou confiante de que a proteína de seda se provará eficaz", afirma Philip Zeplin, médico especializado em cirurgia plástica e estética da clínica Schlosspark de Ludwigsburg. Ele acredita que o método também será usado futuramente para outros implantes, como próteses vasculares, cateteres de diálise ou válvulas cardíacas.
A fabricante de artigos esportivos Adidas também se interessou no ano passado pela seda de Scheidel. Segundo a empresa, até agora foi produzido apenas um protótipo feito com componentes biodegradáveis. O plano é comercializá-lo futuramente.
Outro benefício das teias de aranha é a duração. Elas sobrevivem por muito tempo, com exemplares de até 500 anos podendo ser encontrados em prédios antigos.

Fonte:g1.globo.com