ARTIGOS

Publicado em 16 de Outubro de 2013 11:32

Ética e profissionais de informática

Publicado por Valdeblan Siqueira Expirado

Por mais de dois anos lecionei a disciplina de ‘direito e ética profissional’ para estudantes de informática. Hoje, convivo com profissionais dessa área, que primam pela excelência. Considerando a complexidade da tecnologia da informação, conclui-se que as questões éticas por ela suscitadas, observam mesmo padrão de complexidade. Insuficiente querer seguir as normas legais relativas a direitos autorais, pirataria e outras, que tentam dar conta dos chamados crimes cibernéticos. Os fatos suplantam a dinâmica da elaboração legislativa. Os profissionais precisam de algo mais que a simples legalidade: observar uma moralidade mínima que garanta confiabilidade e eticidade na manipulação de tão sofisticada tecnologia que influencia a vida desta e das futuras gerações. E combater, sem moralismo, a perversão do produto de seu trabalho, dando-lhe um direcionamento socialmente legitimado. Habilidade e competência técnicas articuladas com a dimensão ética, na prática de cada profissional. Neste escopo, interessa-nos menos a ética dos que utilizam a tecnologia apenas como usuários e mais a daqueles que se ocupam da engenharia dos sistemas. Quando falamos de tecnologias falamos também, e necessariamente, dos profissionais que as desenvolvem e daqueles que as aplicam. Não sendo necessariamente os mesmos, compartilham responsabilidades. Interessa-nos a ética dos informatas, que dão suporte tecnológico à medicina e às demais ciências. A ética dos profissionais médicos já está consagrada, mas, à força dos desenvolvimentos tecnológicos, tem que se manter permanentemente atualizada. Importa uma ‘infoética’ dos que desenham, programam e desenvolvem softwares e metodologias, numa atividade com propósito instrumental. Aplicável, inclusive, à fusão de empresas e à aquisição de produtos e serviços. O desenvolvimento da tecnologia acompanha a história da humanidade. Os maiores e mais recentes avanços têm sido espetaculares e, em alguns casos, assustadores. Ainda que alguns a tomem como um fim em si mesma, é um meio que altera o modo de viver das sociedades. Aplicações tecnológicas à medicina, à biologia e à genética podem ser muito complexas, ajudando a aprimorar aquelas ciências, enquanto desafiam outras a se atualizarem. É o caso do desafio imposto à ética. Através de um de seus desdobramentos, a bioética, encarrega-se de oferecer orientações pertinentes aos problemas morais surgidos com o avanço das pesquisas científicas e tecnológicas nas áreas da biologia e da medicina. São diferentes preocupações, ambições e interesses. Saber o que os diferencia favorece os correspondentes juízos de valor. Daí a necessidade de utilizar um critério que procede da filosofia moral e que hoje é recorrente no âmbito da ética aplicada às profissões em geral: a deontologia e a teleologia. A primeira trata dos deveres morais, e tem seu apoio no formalismo kantiano. A segunda, aristotélica, está atenta à realização de determinados fins, como a busca da felicidade e da justiça. A complexidade aqui referida supõe a superação da dualidade compreendida entre uma ética de mera convicção e outra, de responsabilidade, através de uma ética da responsabilidade convencida, proposta na filosofia moral da espanhola Adela Cortina. Agir com ciência, consciência e responsabilidade. A ética dos profissionais de informática deverá ser e estar cada vez mais sintonizada com o rigor científico, no meio, e com sua justa aplicação, no fim a que se destina. Um diferencial para profissionais e empresas que lidam com o conhecimento e prestam serviços de suporte tecnológico. Imperativa integração entre a ética e a técnica, definindo o ethos profissional, na formação e na prática dos protagonistas de um futuro em pleno andamento.

Publicado em 13 de janeiro 

Valdeblan Siqueira é auditor fiscal de tributos da Secretaria da Fazenda do Estado de Pernambuco

Data de inclusão: 28/01/2009

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