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Publicado em 22 de Janeiro de 2013 11:11

Alertando os idosos

Expirado

Habitual e corriqueira tornou-se a veiculação de chamativas campanhas publicitárias, através dos meios de comunicação, onde os aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social constituem o grande alvo de inúmeras instituições financeiras. Essas famigeradas tentativas de induzir ao empréstimo consignado revelam que o País ainda está muito distante de exercer um modelo ideal de previdência, suficientemente capaz de suprir as necessidades daqueles que trabalharam e contribuíram, durante décadas para que pudessem usufruir a merecida recompensa ou, no mínimo, assegurar um benefício que pudesse sanear suas despesas e proporcionar uma tranqüila velhice. 

Grandes estrelas da televisão brasileira são protagonistas de peças sofisticadas, numa astuta campanha de marketing onde os idosos são atraídos para efetuarem operações de empréstimo. Vale tudo para garantir uma boa fatia do lucrativo mercado, já que essa categoria representa milhões de brasileiros e, através da Medida Provisória nº 130, o Governo Federal autorizou os bancos a atraí-los para efetuarem empréstimos a partir de acesso fácil, pois o próprio governo além de fazer o desconto das parcelas na "boca do caixa", garante um índice de inadimplência quase inexistente. Por se tratar de um excelente negócio para os bancos e financeiras, muitos deles gastam fortunas em campanhas. 

A última peça publicitária mostra, na televisão, um grupo de idosos sorridentes, dançando e exibindo punhados de dinheiro na forma de leque, uma verdadeira tentação para os menos avisados, pois ninguém fala em juros embutidos, muito menos no valor total para se quitar o empréstimo. É neste momento que a festa e a alegria se transformam em frustração e preocupação com o endividamento. 

Este fato nos faz lembrar a avalanche de propagandas das revendedoras de automóveis, onde as facilidades são enormes, começando com a não exigência de entrada e a grande quantidade de parcelas para pagar. O baixo valor das parcelas estimula o comprador, fazendo com que qualquer pessoa possa comprar um carro. O resultado vem logo a seguir: juntando a prestação desta compra com as já existentes e com os gastos rotineiros, o cidadão se vê pressionado pelos atrasos e pelos juros e multas, sendo obrigado a repassar, refinanciar ou devolver o veículo, que se transformou de sonho em pesadelo. 

Por trás da mídia, o governo disfarça graves contrastes sociais gerados a partir da mal estruturada e, pior ainda, mal aplicada fórmula de previdência, para a qual insistem em direcionar infinitos prejuízos que fomentam as principais mazelas de grande parte da população, que ainda tratam - com certa dose de ironia - de melhor idade. 

Sua Santidade, o Papa João Paulo II, deixou um profundo legado através de atos e inúmeros escritos. Entre eles se destaca um que revela: "A nação que mata suas crianças, não tem futuro". Divagando sobre esse enunciado, dispus plenamente a concordar e traçar uma analogia entre as duas faixas etárias. Esbarrei numa indagação: E o que será da nação que maltrata e expõe seus idosos? Que trata mal quem doou grande parte de sua vida ao trabalho e, por conseguinte, patrocinou empreendimentos que ele, agora que chegou à terceira idade, poderia usufruir e, infelizmente, não pode. 

Em plena "melhor idade" eles não podem sair às ruas e transitar em calçadas uniformes e contínuas; não podem sair de casa sem correr o risco de serem assaltados ou atropelados; muitas das vezes até os direitos garantidos por lei são aviltados. Resta então, o consolo de ficar em casa (quem tem), diante da TV e através do telefone correr mais um risco contraindo dívidas que, de acordo com o Código Civil, não se finda com o falecimento de quem contraiu. Ou seja, deve-se pelo menos cuidar de nossos aposentados, pensionistas e de seus dependentes para que não sejam herdeiros de dívidas. 

*O autor é auditor Fiscal da Sefaz e coordenador do Programa de Educação Fiscal no Amazonas.

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